Não há como negar que ao longo dos anos a mulher foi ganhando força e destaque em muitas áreas. Os paradigmas foram se quebrando e a mulher atualmente tem um papel mais significativo no âmbito familiar e profissional. No entanto, está longe de se livrar, por completo, da herança histórica regada de preconceitos que permeiam o universo feminino.
O machismo e a violência contra a mulher ainda estão impregnados na sociedade e
crescem assustadoramente a cada dia. É comum encontrarmos pessoas que proferem frases ofensivas, camufladas em “brincadeiras”, mas que servem para menosprezar a figura feminina e aguçar a violência. É também comum encontrar mulheres pedindo por socorro pelos abusos que sofrem em casa, um fato que teve uma considerável alta na quarentena.
Diante dessa realidade, para evitar um relacionamento abusivo, é importante a mulher entender o motivo dos abusos e suas características. E para àquelas que já estão neste pesadelo a informação pode amenizar o sofrimento e oferecer caminhos para a solução do problema.
A violência não se resume às agressões físicas, aos estupros e às ameaças. Infelizmente existe o lado velado que consiste na manipulação, na chantagem e nos jogos emocionais. E o resultado é uma mulher completamente submissa. Acredite, até a mulher mais independente pode cair nesse jogo e se aprisionar em um relacionamento doentio, sem ao menos ter consciência do que vive. Isso porque o abusador pode adotar uma personagem e um cenário criados por ele a fim de favorecer suas atitudes, exaltar suas qualidades inventadas e se proteger de qualquer acusação. Eles são irresponsáveis, inconseqüentes e não sentem qualquer culpa ou remorso.
Um dos problemas que desencadeiam os abusos, não só em relacionamentos amorosos, mas na relação de mãe e filho e até a relação fraternal, é a misoginia, uma palavra mal interpretada nos dias atuais. Muitas pessoas confundem com narcisismo e até com machismo.
Misoginia é uma palavra de origem grega, usada há séculos, para definir um problema, na área psíquica, que leva o homem a sentir repulsa pela figura feminina, no entanto não significa que ele não sinta atração sexual por mulheres, essa condição não impede que eles se relacionem. O misógino quer ter uma mulher que o venere, ao mesmo tempo que ele brinca com os sentimentos, fazendo com que ela se sinta incapaz, inadequada e totalmente submissa a ele. Ele enxerga a mulher – seja mãe, irmã, prima, tia, professora, colega de trabalho ou namorada – com total aversão. É como se as mulheres fossem culpadas de tudo que ocorreu de errado na sua vida.
O relacionamento com um misógino costuma ser incrível no início, e com o tempo se deteriora culminando em histórias de violência. No começo do relacionamento ele representa um homem carinhoso, atencioso, apaixonado, cheio de gentilezas e elogios e quando a mulher se dá conta o príncipe encantado se transformou em um sapo, roubando a auto estima, os valores, as opiniões e até mesmo a vida dela! O comportamento do misógino muda de forma sutil, e o romantismo é substituído pela frieza.
Muitas mulheres caem na armadilha e acham que o comportamento do companheiro é resultado de um dia estressante ou uma fase difícil da vida, afinal aquele não é o homem romântico que a conquistou.
Em algumas ocasiões o homem é capaz de manipular toda a situação para que a mulher se sinta culpada por tudo, e a manipulação é tão bem feita que, em alguns casos, a mulher se responsabiliza pelas agressões feitas pelo parceiro. E em outras situações as grosserias serão apenas recompensadas com demonstrações de carinho ou afeto.
O que causa confusão, e leva à ignorância das vítimas e da própria sociedade em reconhecer esse problema, é que o misógino demonstra amar, contudo isso não significa que ele tem esse sentimento, mas essa demonstração afetiva se torna uma grande isca para a mulher. Da mesma forma que ele demonstra amor ele desqualifica. A misoginia é um tema que submerge nas profundezas de um mundo invisível para a sociedade, que vem camuflada em um relacionamento manipulador e destrutivo que leva a mulher a uma desestrutura psicológica.
É importante ressaltar que os homens que são misóginos não são porque querem. Eles também são vítimas, é a educação e as atitudes que vivenciaram na infância que moldam o sentimento que eles têm pela mulher - o que deveria ser carinho e respeito passa a ser ódio. Mas há uma luz no fundo do túnel! E a notícia boa é que a partir do momento que o homem se reconhece como misógino e procura ajuda de um psicólogo, ele pode se despir de toda a aversão e passar a ter um olhar diferente sobre a mulher.
Por isso a informação é uma arma importante para evitar e combater anos de sofrimento e até mesmo um fim trágico. O conhecimento pode salvar vidas.
Rebeca Ucelli
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